domingo, 28 de junho de 2015

Uma puta chamada Saraghina

Sabe o que é uma personagem emblemática? É aquela que representa mais do que simplesmente seu papel: ela carrega um pensamento, um lema, uma ideia, o conceito de uma obra. Assim é a puta Saraghina de Nine, que representa o universo que nos habituamos a conhecer por Felliniano. Um universo evocado em Nine.  


Ela, sim, é felliniana. Opulenta, grande e impressionante. Ela faz parte do imaginário de um homem-menino que busca a mulher ideal, a musa. É uma puta de praia. É gorda, tetuda, coxuda. Escandalosamente descabelada. Desbragadamente sedutora. Ela é Saraghina.



Em 8 1/2 de Fellini (1963), ela ocupa o lugar de destaque por ser e estar na contramão da beleza de afrodite. É dionisíaca, demoníaca e, por isso mesmo, sedutora. No filme, ela foi vivida pela americana Eddra Gale.


Depois, o filme foi adaptado para o teatro. Virou um musical (1982) tendo Raul Julia no papel central. Na transposição, muito se perdeu, mas a puta Saraghina foi junto. Na primeira montagem da Broadway, ela foi vivida por Kathi Moss. Aqui vai uma foto dela.



Na sequência (2003), um Revival, tendo no elenco: Antonio Banderas, Chita Rivera e Laura Benanti. Desta vez, a opulência agressiva de Saraghina foi vivida pela maravilhosa atriz (negra, inclusive!) Mary Lucretia Taylor, de quem se tem poucos registros. Veja aqui um trecho de Be Italian numa filmagem amadora.



Daí veio o filme (2009). E Daniel Day Lewis precisava se lembrar de uma Saraghina mais hollywoodiana. E, apesar da paisagem em preto e branco de uma praia da infância... dos ecos de Fellini que a filmagem trazia, Fergie estava longe de ter o tom grotesco que Saraghina exige. Opulenta, sim. Mas glamurosa, E meio distante da Saraghina imaginada originalmente.



Finalmente chegamos à total glamurização. Na montagem brasileira de Nine - um musical que leva o subtítulo de felliniano (2015), Saraghina tem cinturinha de vespa, bracinhos finos e cara de menina. A atriz Myra Ruiz é excelente e canta divinamente a canção que lhe foi incumbida. Mas é tão jovem, linda e angelical que não tem o peso, a violência, a selvageria e a maturidade necessárias para o personagem. Me faz sentir falta da puta que assustava e seduzia o garoto e que, de alguma forma, o fez ser o homem que está ali representado em tamanho conflito existencial.


P.S. Aproveite para rever aqui o vídeo que o Ensaio Geral fez sobre Nine, Um Musical Felliniano.

domingo, 7 de junho de 2015

Entrevista: Fernanda Maia

Em 2013 eu entrevistei Fernanda Maia para a produção do livro A Broadway Não é Aqui (a ser lançado). Ela contou a história de como uma pianista de formação erudita foi parar no palco, se tornou atriz e, depois, Diretora Musical premiada em alguns dos espetáculos mais bem cotados dos últimos anos, incluindo Urinal, O Musical.

Fernanda Maia fotografada por Ronaldo Gutierrez

Fernanda Maia, além de musicista, diretora musical e atriz, é ainda dramaturga e produtora de alguns premiados espetáculos musicais para crianças: Menino Lua, Canção de Amor em Rosa e Chovendo na Roseira.

Rodrigo Caetano, Cy Teixeira e Felipe Ramos em Menino Lua. Foto de Ronaldo Gutierrez

Mas se você pensa que a entrevista (editada em dois blocos de pouco mais de 20 minutos) parou por aí, engana-se. Fernanda fala de musicais de Broadway, revela suas preocupações com políticas culturais e administração pública, além de dar valiosas dicas para quem quer continuar nesse mercado de trabalho.

Luciana Ramanzini, Helena Ritto, Jon Faria e Caio Salay em Chovendo na Roseira. Foto de Ronaldo Gutierrez.

Abaixo, você fica com  entrevista em dois blocos. Fique de olho e saiba mais. E, claro, curta nossa página no Youtube e no Facebook para saber tudo antes.