quarta-feira, 22 de julho de 2015

Uma franquia chamada Família Addams.

Quando o cartunista estadunidense Charles Addams criou a bizarra e soturna Família Addams como crítica à crise socioeconômica pela qual os Estados Unidos passavam naqueles anos 1930, ele não imaginava que o retrato dessa família disfuncional iria durar tanto se ser multiplicado por tantas e tão diferentes mídias. Do cartoon aos desenhos animados, do cinema aos palcos dos musicais da Broadway.
Sobre isso, escrevi em 2013 um artigo bastante esclarecedor e divertido ao mesmo tempo. Nele, eu falo de como a imagem da família se torna um ícone preservado e multiplicado por décadas até chegar aos musicais da Broadway - inclusive na franquia brasileira da T4F. Pra você que é fan dos Addams, vale assistir o vídeo abaixo e depois clicar no link do artigo. 




Ah! E se for utilizar a minha pesquisa de alguma forma, não se esqueça de dar o crédito e mencionar a referência! 

terça-feira, 7 de julho de 2015

O sonhado Gigolô de Falabella.

Em seu livro How Musicals Work (and how to write your own), o inglês Julian Woolford, logo de cara, informa seus leitores de que são raros os musicais originais. Eles sempre se baseiam em alguma outra obra. Também sobre isso, nos alerta a Diretora Musical de Urinal, Fernanda Maia, em entrevista publicada aqui no Ensaio Geral e no nosso Canal do YouTube.



Desse modo, é até um exercício gostoso ficar pensando em que obras alguns musicais se basearam. Por exemplo: O Rei Leão é o Hamlet, Kiss Me Kate é a Megera Domada, Wicked nasceu de O Mágico de Oz, Miss Saigon é Madame Butterfly, Rent e Moulin Rouge são La Bohème e por aí vai. Isso, sem esquecer aqueles que são adaptações diretas a partir de livros ou filmes: Nine To Five, Ghost, Les Misèrables. Ou os brasileiros Se Eu Fosse Você, Bilac Vê Estrelas ou o recente Memórias de um Gigolô.



Este último, uma adaptação (e direção) há muito sonhada por Miguel Falabella a partir do original de Marcos Rey (1968). Mas a adaptação não é o primeiro exercício de transposição de linguagem feito sobre a obra literária de Rey. Antes, ele já foi filme (1970) sob a direção de Alberto Pieralisi e minissérie da TV Globo (1986). O musical de Falabella tem composições de Josimar Carneiro, o mesmo que fez com ele Império.

Nessa praia, até telenovelas já estão inspirando musicais. Vem aí Vamp, inspirado na teleobra de Antonio Calmon e o produtor Marllos Silva promete ainda para 2016 uma adaptação binacional de A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.

Quer saber mais sobre Memórias de Um Gigolô? Dê uma olhada no nosso vídeo, aqui embaixo!
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sexta-feira, 3 de julho de 2015

Chaplin é teatro, antes de ser musical.

Durante anos, Charles Chaplin brigou pelo direito de permanecer mudo na tela. Um dia, diante da opressão, ele falou. E nunca mais se calou. Depois disso, passou anos lutando pelo direito de continuar falando. Mas, então, finalmente, foi obrigado a se calar. Exilado e, depois, recluso na Suíça – neutro como aquele país – Chaplin não se dizia comunista, mas sim humanista.


Pelo menos essa é a visão que a biografia musical que leva seu nome procura dar do retratado. Antes de tudo, um artista. Pela mais completa falta de opção. Um artista, pela mais arguta observação da vida cotidiana e da alma humana, das idiossincrasias e ironias que cercam o homem comum: bêbados, mendigos, floristas de calçada, párias, ladrões e policiais, donos de mercearias, ricaços esnobes. Essa foi a matéria-prima de seus filmes. E é o que se vê em cena.

Chaplin – O Musical não um é espetáculo para toda a família. É um espetáculo para todas as pessoas. Especialmente aquelas mais jovens, que não viram seus filmes na TV ou nas antigas coleções de videocassetes dos anos 1980. Alguns nem sequer ouviram falar dele antes do musical. A esses, recomendo que vejam a peça com um caderninho de anotações para ver, no mínimo, filmes como: Tempos Modernos, O Grande Ditador, Luzes da Cidade e Luzes da Ribalta.  

Alguns filmes de Chaplin em sentido horário:
Tempos Modernos, O Garoto, Luzes da Cidade e O Circo. 

É a chance de ouvir um trecho do famoso discurso de O Grande Ditador, ver os velhos e lindos cartazes de seus filmes (sempre pinturas que se tornaram verdadeiras obras de arte). A oportunidade de saber que dançar com o globo terrestre não era prerrogativa de uma oportunista abertura de novela. Saber que ele foi o primeiro artista de cinema a se produzir (ao lado de Douglas Fairbanks e de uma esquecida Mary Pickford). Significava ser dono de seu trabalho e consequentemente arcar com prejuízos ou receber os lucros.


Fundação da UA-United Artists.
Da esquerda para direita: DW Grifith, Mary Pickford, Chaplin e Douglas Fairbanks.

É um musical, sim. E apesar das bonitas canções (algumas delas rapidamente esquecíveis), o que fica é a lembrança das belas vozes em alguns números de forte impacto sonoro e visual, especialmente os conduzidos por Naíma, Paula Cappovilla, Giulia Nadruz e, claro, Homem de Mello. Este, um ator cada vez mais envolvido com a importância teatral da obra cênica – agora também como produtor. 

Jarbas Homem de Mello, como Carlitos. Paulo Goulart Filho como Mack Senett.
Marcelo Antony como Sid Chaplin. Paula Capovilla como Hedda Hopper.
 Naíma como Hannah, a mãe de Chaplin. 

Nesta montagem, que parece mais centrada, equilibrada e até econômica - num bom sentido - que a da Broadway (sem certas histerias típicas daquele teatro), a  beleza do espetáculo está para além da música. Ela se estende pelos figurinos sempre cuidadosos de Fábio Namatame e por um verdadeiro espetáculo de luz e cores, profundidades e dimensões – sem nunca deixar de lado a essencialidade, a sensação de que o show não pode ser maior que a obra. Além de um elenco afiadíssimo que conta ainda com Paulo Goulart Filho, Marcelo Antony e um competente grupo de artistas completos.

Veja Chaplin, O Musical não por ser um musical. Aliás, não vá esperando um musical desses de franquia, com excessos de americanismos e lantejoulas. Vá para ver teatro. Bom teatro. Que por acaso é musical.

Abaixo, você vê a entrevista que o Ensaio geral fez com Homem de Mello.