domingo, 6 de dezembro de 2015

Viva Marília!

Ela é herdeira direta da linhagem de Henriete Morineau, Dulcina de Moraes e Bibi Ferreira. Nascida numa família de artistas: pais, avós, tios. Seu pai, antes de ser ator de teatro e músico, foi artesão - alfaiate e carpinteiro de palco. Sua mãe, cantora e bailarina, foi estrela de teatro de revista. Desse modo, para Marília Marzullo Pêra, ser atriz talvez nem tenha sido uma escolha. Foi uma contingência. 

Nascida em 1943, ainda menina, já pisava os palcos como bailarina, espécie de preparação para uma carreira em que se revelaria uma artista completa: cantando, atuando e dançando. 

Em musicais de Broadway, sua estreia foi ainda no comecinho dos anos 1960 em Minha Querida Lady, ainda no coro, ao lado de Bibi Ferreira. Mas, claro, não pararia por aí. Ela esteve ainda na primeira montagem de Como Vencer Na Vida Sem Fazer Força (em que, dizem, ela teria desbancado Elis Regina), A Ópera de Três Vinténs, Pippin, Masterclass, Vitor ou Vitória, Hello Dolly e Gloriosa  – apenas para mencionar alguns. 

Marília com bailarinas do coro de Vítor ou Vitória. Abaixo: com Moacyr Franco e Bertha Loran em Como Vencer na Vida Sem Fazer Força; com Miguel Falabella em Alô, Dolly e, finalmente, com Marco Nanini em Pippin. 

Sua alma alegre e o temperamento perfeccionista foram perfeitos para dar ao teatro musical brasileiro o que ele precisava: a integração entre espontaneidade e técnica. Por isso, sua passagem por algumas das obras mais importantes do musical brasileiro tais como O Teu Cabelo Não Nega, Roda Viva, Deus Lhe Pague, Estrela Dalva e Elas Por Ela. 


Mas ela não ficou só no teatro musical. Ela fez da arte de representar seu ofício, independente de gêneros, estilos ou veículos. Seus personagens foram de Maria Callas, Carmem Miranda e Coco Chanel até a primeira dama Sarah Kubitscheck ou ainda a suburbana Darlene da recente sitcom Pé Na Cova. 

Como a estilista francesa Coco Chanel, a cantora Maria Callas, a primeira dama Sarah Kubitscheck
e em seu último papel, a deliciosa Darlene de Pé na Cova. 

No cinema e na TV, ela também atuou com conforto e precisão. Não se deixava aprisionar pela ditadura da câmera, do enquadramento. Atuava com plena voz e de corpo inteiro. Começou sua carreira em TV ainda nos anos 1960 e atingiu sucesso nacional em obras como Beto Rockfeller e Superplá (ambas da extinta TV Tupi). 
Marília Pera, Maria Della Costa e Luiz Gustavo em Beto Rockfeller;
com Othon Bastos em Superplá
(ambas da TV Tupi). Em Supermanuela (TV Globo)

Depois, já na Rede Globo de Televisão, seguiu uma trajetória de protagonistas inesquecíveis em obras como Uma Rosa Com Amor, Bandeira 2, O Cafona, Brega e Chique, Os Maias, JK e Primo Basílio.

Em cinema, apenas para citar e recomendar alguns filmes com interpretações absolutamente distintas e todas memoráveis, recomendamos Dias Melhores Virão, Bar Esperança, Tieta do Agreste, Anjos da Noite, Jenipapo, Central do Brasil e Pixote – seu grande êxito internacional, de crítica e público. 

Marília em Tieta do Agreste, ao lado de Cláudia Abreu. Com Hugo Carvana em Bar Esperança.
Em Pixote, de Hector Babenco. Com Rita Lee em Dias Melhores Virão. 

Recebeu todos os prêmios que uma atriz brasileira poderia receber. Para citar alguns: Molière, APCA, Mambembe, Air France, Governador do Estado, Shell, além de prêmios internacionais. 

Era uma atriz que revelava em seus trabalhos a preocupação com o humano, em revelar detalhes da alma humana. Seu apuro técnico e seu perfeccionismo estavam a serviço de sua sensibilidade e talento – e nunca o contrário.  Sabia a importância do estudo permanente e do constante aperfeiçoamento de sua arte. O Ensaio Geral dá Viva a Marília. 

Veja o vídeo abaixo.