Outro dia, alguém me perguntou se eu já sabia qual era o
elenco oficial da montagem nacional de Wicked. Disse que não. Tive que ouvir a
seguinte resposta: ‘mas você não é um pesquisador de teatro musical? como não
sabe?!’
Pausa!
Para você não é familiarizado com teatro (e muito menos musical),
Wicked é uma produção de enorme sucesso na Broadway, especialmente entre
adolescentes e jovens. Tem por ponto de partida o livro Wicked: The
Life and Times of the Wicked Witch of the West, uma reimaginação de Gregory Maguire, datada de 1995, sobre clássico
O Mágico de Oz. O musical – com músicas e letras de Stephen Schwartz e libreto
de Winnie Holzman – narra como tudo chegou ao ponto que estava na Terra de Oz
quando Dorothy caiu por lá. Trocando em miúdos, se você sempre quis saber por
que o Leão é covarde ou a razão do Homem de Lata não ter coração, além de
outras particularidades inventadas por Maguire, Wicked é uma possibilidade de
resposta para suas dúvidas. E chegará em breve ao palco do Teatro Renault em
São Paulo, com produção da T4F.
Isso posto, aviso que não pretendo aqui falar mais sobre
a obra – musical ou literária. Pretendo voltar à resposta que tive do meu
interlocutor e desenvolver a premissa inicial: saber na frente dos demais e capacidade
mecânica de decorar informações são qualidades para um bom pesquisador?
Não desmereço quem compila
dados, organiza listas, sabe escalações de times de futebol ou a filmografia
completa de um cineasta. Teses e pesquisas compilativas - como classifica Umberto Eco - são muito importantes. São registros que fazem falta para
uma pesquisa científica. Penso que cada pesquisador desenvolve seu cabedal de informações
para organizar sua narrativa e estabelecer um pensamento crítico que terá, muitas
vezes, importância científica em sua comunidade.
É um peneirar constante.
Há escolhas a se fazer, recortes a propor. Análises e críticas. Reflexões sobre
seu objeto de pesquisa. E tudo isso vai além da mera curiosidade de fã sobre
quem irá fazer qual papel numa peça. Só consigo imaginar utilidade em saber a
escalação de um elenco se isso de fato for causar impacto no resultado final da
obra em cena, em sua comunicação com o público ou para que as futuras gerações conheçam o trabalho dos artistas do nosso tempo. E, além do mais e no final das contas, erros
de casting acontecem nas melhores
produções - é só esperar pra ver!
O que me causou certo desconforto
foi perceber que minha interlocutora – uma jovem blogueira de teatro musical –
achasse sinceramente que um pesquisador precisa saber algo na frente dos demais
e que esse conhecimento o destaque como pesquisador. Parece-me que saber das novidades
na frente de todos e divulgá-las aos seus pares é dever de jornalistas e, mesmo
esses, precisam tomar cuidado para não resvalar na mera fofoca.
Ao pesquisador cabe ler,
estudar, cruzar opiniões dos mais diversos pensadores de seu campo de estudos e
estabelecer conexões, diálogos, divergências com eles. Desse modo, para você
que está trilhando sua pesquisa – seja em artes, comunicações ou qualquer outro
campo de estudos – fica a dica: o que difere um pesquisador de um fofoqueiro
não é o fato de terem mais ou menos informações sobre algo, mas o que cada um
faz com essas informações!
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