terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Pesquisa ou fofoca: eis a questão!

Outro dia, alguém me perguntou se eu já sabia qual era o elenco oficial da montagem nacional de Wicked. Disse que não. Tive que ouvir a seguinte resposta: ‘mas você não é um pesquisador de teatro musical? como não sabe?!’

Pausa!

Para você não é familiarizado com teatro (e muito menos musical), Wicked é uma produção de enorme sucesso na Broadway, especialmente entre adolescentes e jovens. Tem por ponto de partida o livro Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West, uma reimaginação de Gregory Maguire, datada de 1995, sobre clássico O Mágico de Oz. O musical – com músicas e letras de Stephen Schwartz e libreto de Winnie Holzman – narra como tudo chegou ao ponto que estava na Terra de Oz quando Dorothy caiu por lá. Trocando em miúdos, se você sempre quis saber por que o Leão é covarde ou a razão do Homem de Lata não ter coração, além de outras particularidades inventadas por Maguire, Wicked é uma possibilidade de resposta para suas dúvidas. E chegará em breve ao palco do Teatro Renault em São Paulo, com produção da T4F.




Isso posto, aviso que não pretendo aqui falar mais sobre a obra – musical ou literária. Pretendo voltar à resposta que tive do meu interlocutor e desenvolver a premissa inicial: saber na frente dos demais e capacidade mecânica de decorar informações são qualidades para um bom pesquisador?

Não desmereço quem compila dados, organiza listas, sabe escalações de times de futebol ou a filmografia completa de um cineasta. Teses e pesquisas compilativas - como classifica Umberto Eco - são muito importantes. São registros que fazem falta para uma pesquisa científica. Penso que cada pesquisador desenvolve seu cabedal de informações para organizar sua narrativa e estabelecer um pensamento crítico que terá, muitas vezes, importância científica em sua comunidade.

É um peneirar constante. Há escolhas a se fazer, recortes a propor. Análises e críticas. Reflexões sobre seu objeto de pesquisa. E tudo isso vai além da mera curiosidade de fã sobre quem irá fazer qual papel numa peça. Só consigo imaginar utilidade em saber a escalação de um elenco se isso de fato for causar impacto no resultado final da obra em cena, em sua comunicação com o público ou para que as futuras gerações conheçam o trabalho dos artistas do nosso tempo. E, além do mais e no final das contas, erros de casting acontecem nas melhores produções - é só esperar pra ver!

O que me causou certo desconforto foi perceber que minha interlocutora – uma jovem blogueira de teatro musical – achasse sinceramente que um pesquisador precisa saber algo na frente dos demais e que esse conhecimento o destaque como pesquisador. Parece-me que saber das novidades na frente de todos e divulgá-las aos seus pares é dever de jornalistas e, mesmo esses, precisam tomar cuidado para não resvalar na mera fofoca.

Ao pesquisador cabe ler, estudar, cruzar opiniões dos mais diversos pensadores de seu campo de estudos e estabelecer conexões, diálogos, divergências com eles. Desse modo, para você que está trilhando sua pesquisa – seja em artes, comunicações ou qualquer outro campo de estudos – fica a dica: o que difere um pesquisador de um fofoqueiro não é o fato de terem mais ou menos informações sobre algo, mas o que cada um faz com essas informações!

domingo, 6 de dezembro de 2015

Viva Marília!

Ela é herdeira direta da linhagem de Henriete Morineau, Dulcina de Moraes e Bibi Ferreira. Nascida numa família de artistas: pais, avós, tios. Seu pai, antes de ser ator de teatro e músico, foi artesão - alfaiate e carpinteiro de palco. Sua mãe, cantora e bailarina, foi estrela de teatro de revista. Desse modo, para Marília Marzullo Pêra, ser atriz talvez nem tenha sido uma escolha. Foi uma contingência. 

Nascida em 1943, ainda menina, já pisava os palcos como bailarina, espécie de preparação para uma carreira em que se revelaria uma artista completa: cantando, atuando e dançando. 

Em musicais de Broadway, sua estreia foi ainda no comecinho dos anos 1960 em Minha Querida Lady, ainda no coro, ao lado de Bibi Ferreira. Mas, claro, não pararia por aí. Ela esteve ainda na primeira montagem de Como Vencer Na Vida Sem Fazer Força (em que, dizem, ela teria desbancado Elis Regina), A Ópera de Três Vinténs, Pippin, Masterclass, Vitor ou Vitória, Hello Dolly e Gloriosa  – apenas para mencionar alguns. 

Marília com bailarinas do coro de Vítor ou Vitória. Abaixo: com Moacyr Franco e Bertha Loran em Como Vencer na Vida Sem Fazer Força; com Miguel Falabella em Alô, Dolly e, finalmente, com Marco Nanini em Pippin. 

Sua alma alegre e o temperamento perfeccionista foram perfeitos para dar ao teatro musical brasileiro o que ele precisava: a integração entre espontaneidade e técnica. Por isso, sua passagem por algumas das obras mais importantes do musical brasileiro tais como O Teu Cabelo Não Nega, Roda Viva, Deus Lhe Pague, Estrela Dalva e Elas Por Ela. 


Mas ela não ficou só no teatro musical. Ela fez da arte de representar seu ofício, independente de gêneros, estilos ou veículos. Seus personagens foram de Maria Callas, Carmem Miranda e Coco Chanel até a primeira dama Sarah Kubitscheck ou ainda a suburbana Darlene da recente sitcom Pé Na Cova. 

Como a estilista francesa Coco Chanel, a cantora Maria Callas, a primeira dama Sarah Kubitscheck
e em seu último papel, a deliciosa Darlene de Pé na Cova. 

No cinema e na TV, ela também atuou com conforto e precisão. Não se deixava aprisionar pela ditadura da câmera, do enquadramento. Atuava com plena voz e de corpo inteiro. Começou sua carreira em TV ainda nos anos 1960 e atingiu sucesso nacional em obras como Beto Rockfeller e Superplá (ambas da extinta TV Tupi). 
Marília Pera, Maria Della Costa e Luiz Gustavo em Beto Rockfeller;
com Othon Bastos em Superplá
(ambas da TV Tupi). Em Supermanuela (TV Globo)

Depois, já na Rede Globo de Televisão, seguiu uma trajetória de protagonistas inesquecíveis em obras como Uma Rosa Com Amor, Bandeira 2, O Cafona, Brega e Chique, Os Maias, JK e Primo Basílio.

Em cinema, apenas para citar e recomendar alguns filmes com interpretações absolutamente distintas e todas memoráveis, recomendamos Dias Melhores Virão, Bar Esperança, Tieta do Agreste, Anjos da Noite, Jenipapo, Central do Brasil e Pixote – seu grande êxito internacional, de crítica e público. 

Marília em Tieta do Agreste, ao lado de Cláudia Abreu. Com Hugo Carvana em Bar Esperança.
Em Pixote, de Hector Babenco. Com Rita Lee em Dias Melhores Virão. 

Recebeu todos os prêmios que uma atriz brasileira poderia receber. Para citar alguns: Molière, APCA, Mambembe, Air France, Governador do Estado, Shell, além de prêmios internacionais. 

Era uma atriz que revelava em seus trabalhos a preocupação com o humano, em revelar detalhes da alma humana. Seu apuro técnico e seu perfeccionismo estavam a serviço de sua sensibilidade e talento – e nunca o contrário.  Sabia a importância do estudo permanente e do constante aperfeiçoamento de sua arte. O Ensaio Geral dá Viva a Marília. 

Veja o vídeo abaixo. 


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Raia 30 anos. Uma revista contemporânea.

Aos que me perguntam por que não escrevo críticas teatrais eu sempre respondo a mesma ladainha: porque amo demais o que faço e não pretendo parar, porque para ser um crítico é preciso entender muito do riscado e, finalmente, porque tenho amigos que são grandes artistas a quem dirijo minhas impressões na intimidade. Algumas vezes nem tanto... mas eles já me conhecem e compreendem esta minha franqueza e objetividade. Escrevo só, e sempre, quando gosto muito de algo e sou tocado de alguma forma. E quero escrever sobre Raia 30 anos.

Pode parecer, num primeiro momento, para um olhar menos avisado, um mero exercício de ego ou vaidade. E, ainda que fosse, nesta profissão, quem atira a primeira pedra? De um jeito ou de outro, todos nós buscamos o riso, a lágrima, o aplauso, a crítica, o prêmio... transformar ou tocar o outro – como se fôssemos deuses capazes dessa transformação na plateia.



E Claudia Raia em cena vai além da vaidade. Ela conta um sonho de menina, brinca com os desejos de adolescente, expõe a mulher do seu tempo, que vai à luta. É a diva, a deusa, a louca, a santa, a irônica, a extravagante, a kitsch, a moderna, a engraçada, a debochada, a abusada e a sincera. E, faz um verdadeiro exercício de revisitação do nosso teatro de revista mais popular. Muito mais graças ao entendimento profundo que Miguel Falabella tem desse tipo de estrutura e linguagem, do que pelo conhecimento que o diretor, José Possi Neto, parece ter. O espetáculo tem mais a cara (e parece ter a mão também) de homens como Falabella, Silvio de Abreu ou Jorge Fernando (também citados em cena) do que do próprio Possi.

E está tudo ali, as memórias e as histórias. Num grande espetáculo de revista – que a atriz chama de show. Com todos os elementos da revista: escadarias, colunas gregas e adornos art-déco, baldaquins, ribaltas, penachos, paetês, bananas, viadagem e sacanagem (não necessariamente nessa ordem). Tem número de plateia e de cortina, tem coristas e boys, e tem troca de roupa... como toda vedete merece.



E que se dane o ego da primeira atriz! Ela tem a capacidade de debochar de si mesma como poucas em nosso teatro, falando em primeira pessoa. Talvez como teve Dercy Gonçalves, que também mandava a opinião alheia à merda e sempre seguia em frente graças ao seu público.

E Cláudia não tem nem medo nem vergonha de se expor diante desse público. Não faz papai-e-mamãe. Manda ver! Franze o nariz quando fala de TV, embora saiba que é seu maior veículo. Fala palavrão, mas também diz palavrinhas doces sobre nossos antepassados artísticos. Fala de preconceito e de bunda à mostra na TV – usada e explorada como foi o corpo de Charity. Mas rindo disso!   

E evoca uma trajetória que se confunde com nosso musical contemporâneo. Num primeiro quadro, como num tableau vivant – tão comum nas antigas revistas – surgem seus fantasmas: a mãe e a irmã, seus personagens mais emblemáticos, um Walter Clark que se confunde com Tonhão, figuras saídas de coreografias de Fosse e Lenny Dale (este, num dos momentos mais tocantes do espetáculo). Talvez seja esta a grande contribuição de Possi: a poesia, a elegância e o glamour. 

A direção musical é esperta e ampara o elenco criando condições para que todos cantem com conforto e, em especial, a protagonista. Somada às novas letras escritas por Miguel, o resultado sonoro é divertido, alegre, e emociona quando necessário – apesar de alguns problemas de equalização de instrumentos, bases e microfones (pelo menos quando vi). Vale mencionar a criação de uma overture muito agradável para ser ouvida durante as sempre maçantes projeções iniciais.



Ao lado de Claudia, um elenco delicioso de jovens atores e bailarinos muito bem orquestrados por Tania Nardini em coreografias de inspirações diversas, mas sobretudo em Bob Fosse. E, claro, Marcos Tumura. Um dos artistas mais competentes do nosso musical, no que diz respeito a cantar/dançar, mas sobretudo atuar suas canções, evocando um MC camaleônico, mas com identidade sempre presente.

De resto, o que não é resto! Os figurinos sempre muito cuidadosos e competentes de Fábio Namatame aliados à luz de Drika Mathes criam todos os ambientes necessários e evocam as inúmeras referências que o roteiro e a direção impõem.

Defeitos? Tudo tem defeito. Eu, você, até minha mãe tinha. Mas felizmente não estou fazendo uma crítica. Estou falando de amigos. Publicamente rasgando seda.  


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

12 musicais que foram parar na tela, telinha, telona!

Comecei a gostar de musicais antes de saber que havia um teatro musical. Comecei a gostar de musicais vendo os filmes da Sessão da Tarde, com minha mãe. Todas aquelas produções sensacionais, grandiloquentes, da MGM e da Paramount. Musicais com Fred Astaire, Ginger Rogers, Ann Miller, Gene Kelly, Judy Garland, Mickey Rooney, Tony Randall, Marilyn Monroe, Cyd Charisse... e tantos outros e outras. Puro entretenimento e escapismo. 

De cima para baixo, da esquerda para direita.
Cartazes de O Picolino e Vamos Dançar?  (Fred Astaire e Ginger Rogers);
Marilyn Monroe e Jane Russel em Os Homens Preferem as Loiras.
Frank Sinatra e Gene Kelly em On The Town (Um Dia em NY)
Cid Charise e Gene Kelly em Singing in the Rain (Cantando na Chuva)

Depois vieram os filmes de Elvis Presley e as comédias musicadas de Jerry Lewis e Dean Martin. Tudo isso formou e formatou meu gosto por narrativas que entrelaçavam a dramaturgia/roteiro com as canções e coreografias. E não me perguntem como eu – um garoto de 10 anos de idade – entendia os números cantados em inglês. Porque eu não os entendia!

Em cima: Shirley MacLaine, Jerry Lewis, Dorothy Malone e Dean Martin em Artistas e Modelos (Artists and Models - 1955)
Embaixo: cartaz e cena de Feitiço Havaiano. 
O fato é que, mais tarde (muito mais!), fui descobrir o teatro musical. Em espetáculos como Chiquinha Gonzaga – Ó Abre-Alas ou O Poeta da Vila e Seus Amores (sobre Noel Rosa), ambos no Teatro Popular do SESI. Muito antes de madrinhas de pileque ou sonhos impossíveis.

Bem... tudo isso pra dizer que, quem ama musicais, os ama de qualquer jeito: no palco, na rua, na telona ou nas telinhas do Youtube. E é por isso que o vídeo abaixo lista 12 títulos de cinema musical que você precisa ver. Alguns nasceram no palco e foram para as telas... Outros fizeram o caminho inverso. Outros, ainda, nasceram e ficaram só no cinema.

Não estão organizados sob nenhum critério. Peguei-os aleatoriamente na minha prateleira de DVDs e saí falando pra câmera. Mas acho que o resultado ficou bom. De Rent a Bodas de Sangue, ou de Hello Dolly a Nine, trata-se de um passeio por alguns dos meus favoritos.

Veja o vídeo e divirta-se!





quarta-feira, 22 de julho de 2015

Uma franquia chamada Família Addams.

Quando o cartunista estadunidense Charles Addams criou a bizarra e soturna Família Addams como crítica à crise socioeconômica pela qual os Estados Unidos passavam naqueles anos 1930, ele não imaginava que o retrato dessa família disfuncional iria durar tanto se ser multiplicado por tantas e tão diferentes mídias. Do cartoon aos desenhos animados, do cinema aos palcos dos musicais da Broadway.
Sobre isso, escrevi em 2013 um artigo bastante esclarecedor e divertido ao mesmo tempo. Nele, eu falo de como a imagem da família se torna um ícone preservado e multiplicado por décadas até chegar aos musicais da Broadway - inclusive na franquia brasileira da T4F. Pra você que é fan dos Addams, vale assistir o vídeo abaixo e depois clicar no link do artigo. 




Ah! E se for utilizar a minha pesquisa de alguma forma, não se esqueça de dar o crédito e mencionar a referência! 

terça-feira, 7 de julho de 2015

O sonhado Gigolô de Falabella.

Em seu livro How Musicals Work (and how to write your own), o inglês Julian Woolford, logo de cara, informa seus leitores de que são raros os musicais originais. Eles sempre se baseiam em alguma outra obra. Também sobre isso, nos alerta a Diretora Musical de Urinal, Fernanda Maia, em entrevista publicada aqui no Ensaio Geral e no nosso Canal do YouTube.



Desse modo, é até um exercício gostoso ficar pensando em que obras alguns musicais se basearam. Por exemplo: O Rei Leão é o Hamlet, Kiss Me Kate é a Megera Domada, Wicked nasceu de O Mágico de Oz, Miss Saigon é Madame Butterfly, Rent e Moulin Rouge são La Bohème e por aí vai. Isso, sem esquecer aqueles que são adaptações diretas a partir de livros ou filmes: Nine To Five, Ghost, Les Misèrables. Ou os brasileiros Se Eu Fosse Você, Bilac Vê Estrelas ou o recente Memórias de um Gigolô.



Este último, uma adaptação (e direção) há muito sonhada por Miguel Falabella a partir do original de Marcos Rey (1968). Mas a adaptação não é o primeiro exercício de transposição de linguagem feito sobre a obra literária de Rey. Antes, ele já foi filme (1970) sob a direção de Alberto Pieralisi e minissérie da TV Globo (1986). O musical de Falabella tem composições de Josimar Carneiro, o mesmo que fez com ele Império.

Nessa praia, até telenovelas já estão inspirando musicais. Vem aí Vamp, inspirado na teleobra de Antonio Calmon e o produtor Marllos Silva promete ainda para 2016 uma adaptação binacional de A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.

Quer saber mais sobre Memórias de Um Gigolô? Dê uma olhada no nosso vídeo, aqui embaixo!
Ah! E não se esqueça de comentar este post e compartilhá-lo em suas redes sociais.


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Chaplin é teatro, antes de ser musical.

Durante anos, Charles Chaplin brigou pelo direito de permanecer mudo na tela. Um dia, diante da opressão, ele falou. E nunca mais se calou. Depois disso, passou anos lutando pelo direito de continuar falando. Mas, então, finalmente, foi obrigado a se calar. Exilado e, depois, recluso na Suíça – neutro como aquele país – Chaplin não se dizia comunista, mas sim humanista.


Pelo menos essa é a visão que a biografia musical que leva seu nome procura dar do retratado. Antes de tudo, um artista. Pela mais completa falta de opção. Um artista, pela mais arguta observação da vida cotidiana e da alma humana, das idiossincrasias e ironias que cercam o homem comum: bêbados, mendigos, floristas de calçada, párias, ladrões e policiais, donos de mercearias, ricaços esnobes. Essa foi a matéria-prima de seus filmes. E é o que se vê em cena.

Chaplin – O Musical não um é espetáculo para toda a família. É um espetáculo para todas as pessoas. Especialmente aquelas mais jovens, que não viram seus filmes na TV ou nas antigas coleções de videocassetes dos anos 1980. Alguns nem sequer ouviram falar dele antes do musical. A esses, recomendo que vejam a peça com um caderninho de anotações para ver, no mínimo, filmes como: Tempos Modernos, O Grande Ditador, Luzes da Cidade e Luzes da Ribalta.  

Alguns filmes de Chaplin em sentido horário:
Tempos Modernos, O Garoto, Luzes da Cidade e O Circo. 

É a chance de ouvir um trecho do famoso discurso de O Grande Ditador, ver os velhos e lindos cartazes de seus filmes (sempre pinturas que se tornaram verdadeiras obras de arte). A oportunidade de saber que dançar com o globo terrestre não era prerrogativa de uma oportunista abertura de novela. Saber que ele foi o primeiro artista de cinema a se produzir (ao lado de Douglas Fairbanks e de uma esquecida Mary Pickford). Significava ser dono de seu trabalho e consequentemente arcar com prejuízos ou receber os lucros.


Fundação da UA-United Artists.
Da esquerda para direita: DW Grifith, Mary Pickford, Chaplin e Douglas Fairbanks.

É um musical, sim. E apesar das bonitas canções (algumas delas rapidamente esquecíveis), o que fica é a lembrança das belas vozes em alguns números de forte impacto sonoro e visual, especialmente os conduzidos por Naíma, Paula Cappovilla, Giulia Nadruz e, claro, Homem de Mello. Este, um ator cada vez mais envolvido com a importância teatral da obra cênica – agora também como produtor. 

Jarbas Homem de Mello, como Carlitos. Paulo Goulart Filho como Mack Senett.
Marcelo Antony como Sid Chaplin. Paula Capovilla como Hedda Hopper.
 Naíma como Hannah, a mãe de Chaplin. 

Nesta montagem, que parece mais centrada, equilibrada e até econômica - num bom sentido - que a da Broadway (sem certas histerias típicas daquele teatro), a  beleza do espetáculo está para além da música. Ela se estende pelos figurinos sempre cuidadosos de Fábio Namatame e por um verdadeiro espetáculo de luz e cores, profundidades e dimensões – sem nunca deixar de lado a essencialidade, a sensação de que o show não pode ser maior que a obra. Além de um elenco afiadíssimo que conta ainda com Paulo Goulart Filho, Marcelo Antony e um competente grupo de artistas completos.

Veja Chaplin, O Musical não por ser um musical. Aliás, não vá esperando um musical desses de franquia, com excessos de americanismos e lantejoulas. Vá para ver teatro. Bom teatro. Que por acaso é musical.

Abaixo, você vê a entrevista que o Ensaio geral fez com Homem de Mello.